A cannabis, nome científico da maconha, ganhou a criminalidade pela primeira vez em 1798 quando o imperador francês Napoleão Bonaparte decidiu proibir o seu consumo sob alegação de que fumar estava erva tornava as pessoas mais agressivas. No Brasil, a primeira proibição ocorreu em 1830 por meio de uma emenda ao Código de Posturas Municipal aprovada pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. E, já no início do século 20, os Estados Unidos decidiram também proibir o consumo e o comércio da cannabis, influenciando vários outros países, entre eles a África do Sul, Jamaica (na época colônia inglesa), Reino Unido, Nova Zelândia e também o Brasil. Logo depois, a maconha passou para ilegalidade praticamente no mundo todo. A proibição incluía, inclusive, o seu uso para fins medicinais, como era muito empregada a maconha na época. Como é sabido, a maconha nunca deixou de ser consumida, apenas o seu comércio passou para as mãos dos traficantes, como ocorre até hoje, exceto em poucos países que decidiram liberar o uso da maconha para “fins recreativos”, como é o caso de nosso vizinho Uruguai, Portugal, Espanha e em alguns estados norte-americanos.
O objetivo deste post não é fazer apologia da maconha como “fuminho do barato”. Ao contrário, fumar maconha pode ser tão prejudicial quanto o cigarro ou talvez até mais devido ao hábito dos maconheiros de tragar e reter a fumaça por um período muito mais longo do que os fumantes de cigarro. Embora ainda seja um assunto polêmico, precisamos encarar uma realidade científica por trás da ficha suja da maconha. Ela possui propriedades medicinais inegáveis para a saúde de muitas pessoas que sofrem com doenças neurocerebrais, como o mal de Parkinson, ou padecem com insônia crônica e vários outros problemas do sistema nervoso. A Holanda foi o primeiro país a liberar, em 1976, o uso da maconha para fins medicinais. E, em 1996, o Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, também decidiu legalizar a maconha com esta finalidade, vindo depois o Canadá em 2003. No Brasil, há um projeto-de-lei (PL 10.549/18) no Congresso Nacional que propõe a liberação da maconha para o tal fim recreativo, permitindo o seu plantio doméstico e o porte de até 40 gramas não prensadas, além do seu uso para fins medicinais mediante autorização da Anvisa, o órgão do Governo Federal responsável por controlar e liberar a comercialização e o uso de medicamentos no país.
A primeira coisa que deve ser esclarecida é que o uso medicinal da maconha não ocorre fumando o cigarro desta erva. Se trata de fitoterápicos, medicamentos feitos a base de ervas, que só retiram das plantas o princípio ativo desejado e o formula na quantidade e na dosagem necessária para o tratamento da doença. Estes medicamentos, ainda não disponíveis no Brasil, não causam qualquer tipo de “barato” (efeito psicoativo) ou dependência. Para ter acesso a eles no país, é necessário, primeiramente, obter uma receita médica prescrevendo o remédio, depois um aprovação judicial e, em seguida, autorização da Anvisa para importar o medicamento dos Estados Unidos. Farmacologicamente, o principal princípio ativo da maconha é o tetrahidrocanabinol, ou THC, um dos 400 compostos da planta, incluindo outros canabinoides, como o canabidiol (CBD), canabinol (CBN) e tetrahidrocanabivarin (THCV). Mas o interesse científico pelo uso medicinal da maconha está justamente no CBD ou canabidiol, que não causa qualquer efeito psicotrópico, propriedade contida no THC.
BENEFÍCIOS DO CANABIDIOL PARA A SAÚDE
O canabidiol é um anti-inflamatório natural muito poderoso e também um antioxidante potente, além de ser uma opção de tratamento muito promissora para todas as desordens neurodegenerativas, incluindo o mal de Parkinson, o Alzheimer, a demência e até o altismo, podendo ser usado para tratar também a depressão Pesquisas recentes apontam que o canabidiol tem se mostrado muito eficiente no combate ao câncer, pois é um agente antineoplásico, o que significa que inibe o crescimento e a propagação de tumores. O canabidiol é comprovadamente um sonífero de alta qualidade, sem os efeitos colaterais dos ansiolíticos tarjas pretas. É ainda analgésico e um importante auxiliar na restauração de ossos quebrados.
Portanto, já passou da hora do preconceito dar lugar à ciência e as autoridades brasileiras liberarem os medicamentos fitoterápicos à base de canabidiol, o que significa também autorizar áreas controladas de plantio da maconha para uso medicinal. Só para ilustrar, assista a este vídeo sobre o uso do canabidiol para um paciente com estágio avançado do mal de Parkinson.