Vermes: quais são, o que fazem e os riscos para a saúde

Vermes: quais são, o que fazem e os riscos para a saúde

Vermes são parasitas que se instalam no organismo de animais e seres humanos por meio da água, dos alimentos, do contato com o solo e por falta de saneamento básico em diversas comunidades, onde os esgotos correm a céu aberto. Os vermes têm uma fisiologia ou aspecto físico bastante interessante. São invertebrados, o que significa que não possuem vértebras, ossos ou cartilagens, são cegos pois não possuem olhos e também não têm nenhum membro, embora sejam pluricelulares, ou seja, são formados por várias células.  Alguns apresentam outra característica importante que facilita a sua auto-reprodução. São hermafroditas, isto é, possuem os dois sexos presentes no mesmo indivíduo. Portanto, não há fêmeas ou machos e, assim, conseguem se reproduzir com muita facilidade e rapidamente dentro do corpo do seu hospedeiro, causando várias doenças perigosas. O tamanho dos vermes varia de alguns seres minúsculos, como o Oxyuris vermicularis, cujas fêmeas medem de 2 a 12 milímetros e os machos, que  são menores, entre 2 a 5 milímetros, e podem também chegar a tamanhos enormes, como os das tênias ou solitárias, que chegam a medir até 30 metros de comprimentos.

Principais tipos de vermes

Ancylostoma duodenale

É o verme causador da doença ancilostomose, popularmente conhecida como amarelão, muito comum em áreas rurais. A transmissão ocorre através da penetração da larva na pele da pessoa, ou através da ingestão da larva na forma de cisto. Dentro do organismo, o Ancylostoma duodenale entra na corrente sanguínea e segue até o intestino onde se instala e passa a se alimentar de sangue que suga da parede intestinal, causando também hemorragias através das feridas que deixa na mucosa intestinal. Isto acaba provocando um quadro de anemia grave na pessoa infectada, o que torna a cor da pele amarelada.

Ancylostoma duodenale adulto possui de 8 a 18 milímetros de comprimento e de 400 a 600 milímetros de largura. É, portanto, um verme bem pequeno. A infecção provoca:

  • dor abdominal
  • perda do apetite
  • náuseas, vômitos
  • diarréia, que pode ser ou não acompanhada de sangue.

Os medicamentos mais usados contra a infestação por Ancylostoma duodenale são o albendazol, mebendazol, tiabendazol, cambendazol, pamoato de pirantel e nitazoxanida.

Ascaris lumbricoides

Conhecidos popularmente como lombrigas, estes vermes são grandes e redondos, com comprimento que varia entre 15 e 40 cm. São causadores de uma doença chamada ascaridíase, que pode causar um quadro inflamatório dos pulmões (pneumonite), provocando tosse seca, bronquite, febre e dor torácica, e também problemas gastrointestinais, como:

  • dor abdominal
  • náuseas e vômitos
  • diarreia
  • distensão abdominal
  • perda de peso, principalmente em crianças, que podem apresentar desnutrição e atraso no crescimento devido à redução na absorção de nutrientes importantes pelo intestino

Contudo, geralmente as infecções pelas lombrigas passam despercebidas, pois são assintomáticas. Mas a proliferação é intensa, pois uma lombriga feminina coloca até 200 mil ovos por dia.

Os principais medicamentos receitados para combater o Ascaris lumbricoides são o albendazol, mebendazol, tiabendazol, ivermectina, pamoato de pirantel, levamisol e nitazoxanida.

Entamoeba histolytica

Este verme é uma ameba que se hospeda no intestino grosso, provocando uma doença chamada amebíase, que pode causar graves sintomas gastrointestinais, como diarreia sanguinolenta e abscesso no fígado.  Os principais sintomas da doença são:

  • alternância entre prisão de ventre e diarreia
  • gases
  • dor abdominal em forma de cólica
  • infecção crônica do cólon

Os principais medicamentos receitados contra a Entamoeba histolytica são o metronidazol e a nitazoxanida.

Enterobius vermucularis ou Oxiurus vermicularis

É um verme bem pequeno, que mede cerca de 1 centímetro e provoca uma verminose intestinal denominada enterobíase, oxiuríase ou oxiurose. Esta doença acarreta uma coceira anal muito intensa, geralmente no horário noturno, chegando mesmo a atrapalhar o sono. A transmissão começa quando a pessoa infectada coça o ânus e contamina suas mãos e, posteriormente, transmite os ovos ao preparar alimentos e tocar em objetos como vestimentas, roupas de cama, mobília, tapetes, brinquedos e assento de privadas, os quais serão posteriormente também tocados por outras pessoas que acabarão se contaminando. Pode ocorrer também por um simples cumprimento de mãos.

Entre duas a seis semanas de vida, o Oxiurus já atinge a maturidade e começa a causar os sintomas da enterobíase. Embora raro, pode ocorrer infecção bacteriana da pele e dos pulmões. Nas mulheres, as fêmeas do Oxiurus costumam migrar pelo trato genital feminino e causar vaginite, além de, em raras ocasiões, provocar lesões peritoneais. Em casos mais graves, os vermes podem se deslocar até as trompas e bloqueá-las, com risco de provocar a esterilidade feminina. Outros sintomas da enterobíase são:

  • irritabilidade
  • diarreia
  • náuseas
  • emagrecimento
  • vômitos
  • dores abdominais

Os medicamentos mais recomendados para o tratamento da enterobíase são o albendazol, mebendazol, tiabendazol, ivermectina, pamoato de pirantel e nitazoxanida.

Giardia lamblia ou Giardia intestinalis

A Giardia é um verme microscópico que tem reprodução assexuada por divisão binária longitudinal, ou seja, um verme se divide em dois. Infestam lagos e ribeirões e contaminam pessoas que se banham em águas contaminadas ou as usam para consumo ou também consomem alimentos que foram irrigados por elas.  Depois de um período de incubação que varia de 5 a 25  dias, começam geralmente a aparecer infecções sintomáticas típicas da doença provocada por este parasita, que se chama giardíase. Dentre eles se destacam:

  • diarreia aquosa fétida
  • cólicas
  • distensões abdominais
  • gases
  • arrotos
  • náuseas intermitentes
  • desconforto epigástrico, popularmente conhecido como dor na boca do estômago
  • mal-estar
  • anorexia, causada principalmente pela má absorção dos nutrientes alimentares que provoca a perda de peso

Os principais medicamentos usados no tratamento de Giardíase são o albendazol, mebendazol, tiabendazol, metronidazol e nitazoxanida.

Schistosoma mansoni

É o parasita causador da esquistossomose, doença muito comum na América do Sul, principalmente no Brasil. O Schistosoma mansoni é transmitido por caramujos que vivem na água contaminada por fezes humanas com este parasita e que se tornam hospedeiros do verme para desenvolver seu ciclo evolutivo até contaminar os seres humanos. Sua reprodução é também assexuada. Qualquer pessoa que tome banho ou beba água com Schistosoma mansoni vai ser infestada.

A esquistossomose é também conhecida como xistose ou barriga d’água, pois à medida que esses vermes põem seus ovos, a barriga da pessoa incha. O primeiro sintoma ocorre pouco depois da contaminação e se caracteriza por uma intensa comichão na pele dos pés e das pernas, em locais que apresentam lesões bem avermelhadas. Depois de duas a oito semanas, começa a fase aguda da doença, com o surgimento de febre, calafrios, dor muscular, dor nas articulações, tosse seca, diarreia, perda do apetite, dor de cabeça, fraqueza, urina no sangue e aumento do volume abdominal. Mas pode também levar a doenças graves como câncer, cirrose hepática, úlceras intestinais e até mesmo tornar a pessoa paraplégica, obrigando o uso da cadeira de rodas.

Os medicamentos mais usados no combate à esquistossomose são o praziquantel e a oxamniquina.

Tênia

É um verme que contamina os seres humanos por meio da ingestão de carne mal cozida infectada por ovos deste parasita. Existem 32 tipos de tênia, mas apenas duas espécies são realmente perigosas. A Taenia solium, encontrada na carne de porco, e a Taenia saginata, adquirida por meio da carne de boi, que se instalam no intestino dando início a seu ciclo reprodutivo e de crescimento. Popularmente chamadas de solitária, pois geralmente as pessoas só desenvolvem um deste verme por vez, as tênias não têm sexo definido, pois são hermafroditas, conseguindo assim se auto reproduzir facilmente. Chegam a atingir tamanhos enormes. A Taenia solium chega a medir até 7 metros de comprimento e a Taenia saginata 30 metros.

As tênias provocam dois tipos de doença: a teníase e a cisticercose. A teníase é mais comumente provocada pela Taenia saginata e se caracteriza por dor abdominal, náuseas, diarreia, perda de peso ou prisão de ventre. O aspecto mais perigoso desta doença é a apendicite, inflamação que ocorre no apêndicie, uma bolsa com formato de tubo localizada na região inferior direita da barriga, cuja função é fabricar e servir como depósito de bactérias que auxiliam na digestão e também células linfoides, que produzem anticorpos e ajudam nas defesas do organismo. A apendicite é uma doença perigosa que pode, inclusive, matar uma pessoa. Já a cisticercose ocorre pela infestação da Taenia solium. É considerada gravíssima, pois é provocada quando as larvas da tênia saem do intestino e chegam ao cérebro se instalando no sistema nervoso central ou ainda nos olhos, músculos e nas vísceras. Depois de instalada podem permanecer nestes locais por até 30 anos, causando ataques epilépticos, crises convulsivas, dor de cabeça, vômitos, alterações de visão, cegueira, hidrocefalia e até mesmo a morte.

Os medicamentos mais usados no combate à tênia são o albendazol, mebendazol, praziquantel, niclosamida e nitazoxanida.

Trichuris trichiura

A infestação de Trichuris trichiura ocorre pela via fecal, ou seja, em locais onde as fezes humanas são utilizadas como fertilizante ou as pessoas defecam no solo, transmitindo este verme para os alimentos ou para a água que são consumidos com ovos do parasita. As crianças são as mais afetadas. Os vermes adultos medem cerca de 3 a 5 centímetros de tamanho, sendo o macho pouco menor que a fêmea. Depois que os ovos do Trichuris trichiura são ingeridos eles eclodem formando larvas do verme que se tornam adultos em cerca de três meses e vivem até dois anos, hospedando-se no intestino delgado, onde causam uma doença chamada tricuríase, que provoca:

  • inflamaçao da mucosa intestinal
  • aumento da motilidade intestinal (movimento anormal e exagerado do intestino), acarretando fortes diarréias devido a liberação de toxinas pelas larvas durante a sua reprodução
  • eosinofilia (aumento anormal de eosinófilos no sangue, característico de alergias e infestações por parasitas)
  • alteração da permeabilidade celular na mucosa intestinal, que é a propriedade da membrana plasmática em controlar as substâncias que devem entrar ou sair da célula
  • dor abdominal
  • e, em infecções mais intensas, anemia e desnutrição

As pessoas com tricuríase não apresentam manifestações claras de infecões, mas a evolução da infestação pode levar a:

  • dor abdominal
  • flatulência
  • febre moderada
  • diarreia com perda de peso nas infestações intensas;
  • desidratação
  • constipação intestinal ou prisão de ventre
  • tenesmo, que é um espasmo do esfíncter anal ou vesical com desejo urgente de defecar ou urinar, mas com eliminação de quantidade mínima ou nenhuma de fezes ou urina
  • em casos graves a tricuríase também pode acarretar prolapso retal, que ocorre principalmente devido ao enfraquecimento dos músculos que seguram o reto, o que pode ser devido ao envelhecimento, prisão de ventre, excesso de força para evacuar e infecções intestinais

O medicamento mais usado no combate ao Trichuris trichiura é o mebendazol e, alternativamente, albendazol ou ivermectina.

Como saber se tenho verme

A forma mais usual de se checar se uma pessoa tem ou não verme é através de uma exame parasitológico das fezes.  Mas este exame serve apenas para os vermes intestinais. Portanto, não é capaz de detectar todos eles. Existem certos tipos de verminoses, como por exemplo a esquistossomose, que para seu diagnóstico pode ser necessária a dosagem de anticorpos no sangue ou complementação com exame de ultrassonografia. Outros parasitas podem exigir uma radiografia para detectar a presença de seus ovos ou cistos. O hemograma também pode ter grande utilidade, pois o exame de sangue detecta células de defesa que aumentam sua contagem na vigência de parasitoses. O exame clínico também pode ajudar o médico detectar sintomas de verminose no paciente.

Portanto, ninguém deve tomar qualquer medicamento contra vermes sem antes atestar se tem ou não uma verminose e, principalmente, se for detectada uma infestação saber qual o tipo de verme para que seja ministrado corretamente o melhor medicamento contra ele.

Como evitar infestações por vermes

Para evitar a infestação com vermes são recomendados alguns cuidados básicos de higiene, como lavar frequentemente as mãos, manter as unhas aparadas, cozinhar bem as carnes antes de seu consumo e lavar os legumes em água corrente antes de utilizá-los. Deve-se também só beber água potável que seja tratada, não tomar banho em rios ou córregos próximos de habitações ou que cortem cidades, vilas ou comunidades a montante e também cortar o péssimo hábito de limpar a boca com a mão ou também levar o dedo à boca. Embora seja saudável andar descalço, é sempre prudente usar algum tipo de calçado fechado em ambientes de criatórios de animais ou em locais onde haja esgotos a céu aberto ou áreas epidêmicas de verminoses.